Veículos de comunicação independente? Quando, onde? A imprensa é um nicho de mercado que segue a regrado dos negócios: visa lucro. Os chamados jornalões (os de papel, meu ramo de trabalho durante décadas) têm donos e usam o jornalismo para ganhar dinheiro por meio do poder que a informação lhes proporciona.

A parte opinativa e noticiosa, de cunho político – não o factual, o submundo e o entretenimento—, fazem parte do estafe da direção. Sempre foi assim. Tenho 18 contratos de trabalhos na carteira com empresas de comunicação e todos funcionavam assim. O repórter presta serviço para o patrão que manda nele.

Destes 18 contratos, pelo menos um terço é de veículos de médio e grande porte. Trabalhei para quatro veículos dos Diários Associados em BH e Brasília; o Grupo de O Dia, Jornal do Brasil – à época o mais respeitado do País –, a Editora Abril e até para as agências internacionais UPI (USA), France Presse (Francesa), Reuters (Inglaterra), fora a ANDA, dos DA, esta com contrato na carteira. As outras eram freelancer.

Alimentava seus telexes como colaborador remunerado com o que obtinha de exclusivo no Congresso Nacional. Pagavam conforme a publicação, o aproveitamento dos takes. Uma mixaria. Um dia noticiei que o serviço de inteligência francês havia detectado um carregamento aéreo de blindados brasileiros para o Oriente Médio. A fonte foi do corpo diplomático do Irã. A notícia rodou o mundo.

Recebia pelo trabalho prestado. Nenhum veículo, nem os Diários Associados, que eram monopólio em Minas até as décadas de 70/80, me censuraram. Mas publicavam o que lhe era interessante, quando o assunto era político. O Cine Metrópole foi demolido –e via-se isso da janela do jornal Estado de Minas—, e ninguém da redação pode protestar à altura. Treta do jornal com o Bradesco que depois instalou uma agência no hall do novo prédio do diário, na Getúlio Vargas.

O sistema que comanda estas fábricas de notícias é bruto e funciona como um poderoso antibiótico que combate as “bactérias” da oposição, os corpos estranhos às suas ideias. O poder é o Senhor dos Engenhos!

Alguém duvida que é diferente no New York Times, Le Monde, The Guardian…ou no meu nanico jornal A Notícia, que circulou durante anos em Nova Lima? Tentei ser independente e quebraram a minha empresa. Quase 10 anos sem contratos com a prefeitura e a Câmara. Um anúncio aqui, outro acolá, até acabarem com ele.

Hoje estou nas redes, mas aviso: sou jornalista, não sou dono de jornal. Sobrevivo da informação e as tenho em altíssima qualidade. A conversa agora mudou, porque não dependo de patrão para dar a minha opinião. Atuo conforme as minhas convicções e não sou hipócrita ao ponto de dizer que não tenho lá meus interesses comerciais.

Jornalista é uma profissão nobre e tem que ser recompensado pelo seu trabalho, principalmente quando o foco é o interesse público.

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