HOLDING MISTERIOSA DE R$ 2 BILHÕES TEM O ANTIGO NOME DA VALE E MATRIZ FANTASMA EM NOVA LIMA

Proprietária do prédio onde a Matriz da Holding "funcionava" na Sala 3, negociando commodities, bebidas, "discotecas" e até administração de cemitérios, colocou o imóvel para alugar nesta segunda-feira por R$ 25 mil. Ela se disse surpresa ao saber que a empresa usou o nome de seu patrimônio na Receita Faderal Foto/AN
Quem passa pela rua Quebec, 727, no Jardim Canadá-Nova Lima, não imagina que na Sala 3 daquele prédio comercial funciona, mas apenas nos registros da Receita Federal, a maior empresa no segmento CNAE do município: a Vale do Rio Doce Mineração & Exportação Ltda.
Na verdade o endereço é falso. A proprietária do prédio, Deusa Helena Resende Starling, confessou à nossa reportagem que tem o prédio há 30 anos e que nem conhece esta empresa.
“De vez em quando aparece gente aqui perguntando pela Vale do Rio Doce, mas achava que era a Vale”, ela confessou, sem saber que a multinacional mudou o nome para Vale S/A em 2009.
A empresa – que herdou o antigo nome da Vale S/A, porém sem qualquer relação com a mineradora— tem um capital social declarado na Receita Federal de R$ 2 bilhões, pelo menos é o que consta no seu CNPJ 48.493.420/0001-83, e pouco mais de dois anos de funcionamento neste endereço que só existe na Receita.
Criada no dia 3/11/22, com fórum na Comarca local, a Vale do Rio Doce abriu em novembro do ano passado uma filial em Guarulhos, SP, tendo como atividade principal o comércio atacadista de açúcar.
No ramo secundário consta o cultivo de soja, agropecuária e locação de máquinas para extrair petróleo. A filial paulista fica na rua Quito,32, Parque Santo Antônio.
A empresa é na verdade uma Holding de instituições não-financeiras que controla diversas outras com atividades multifacetadas.
Aparece como sócia-administrativa Soraya Fátima Santos Neves Martins, da qual não foi possível à reportagem nenhuma outra informação mais relevante, pessoal ou comercial em Nova Lima.
O quadro societário da empresa é constituído ainda de João Lúcio Martins, Luiz Eduardo Fernandes Rezende, Geraldo dos Santos Neves Martins e José Carlos Haddad.
DISCOTECAS E CEMITÉRIOS
Registros cadastrais obtidos na Receita Federal pela reportagem constam que a empresária administra também, no mesmo endereço desde 10/7/2024, a empreiteira Oscar Niemeyer, aberta em 11/7/2013.
Em 8/11/2022 a empreiteira abriu uma filial em Goiânia, na avenida T4,619,Loja 02, Setor Bueno, para construir edifícios, com um capital social de R$ 10 milhões.
Nos seus CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) secundários a Holding Vale do Rio Doce controla pelo menos 30 empresas em diversos ramos de atividades.
São empresas de extração de pedras preciosas, locação de mão-de-obra, exploração de jogos eletrônicos, aluguel de equipamentos para extração de minério/petróleo, comércio varejista em geral e até “discotecas” e gestão de cemitérios, entre outras atividades.
MISTÉRIO
Mas, por trás desta salada de atividades (uma mistura de commodities com danceterias e catacumbas – e números estratosféricos), há um silêncio sepulcral em torno da identidade desta Holding bilionária.
Embora o CNPJ ativo na RF, não há, em seus registros cadastrais, número de telefones para contato, site, e o único e-mail encontrado é inválido. Um mistério total.
A obscuridade é tanta que dá margem a especulações sombrias sobre a sua atividade, a começar pela sede fantasma e o “oportunismo” de sua razão social que tem o antigo nome da Vale S.A., uma das maiores mineradoras do mundo.
Outro fato intrigante é a ausência de informações no meio empresarial pesquisado pela reportagem de seus únicos administradores, João Lúcio Martins, que geriu seus negócios em 2023, e Soraya Fátima dos Santos Martins, que ninguém dá notícia na cidade.
A Holding figura como uma das quatro empresas bilionárias de Nova Lima. É a segunda colocada do ranking com base no segmento CNAE.
A primeira, com capital social de R$ 2,7 bilhões, é a multinacional Afya Participações S.A., do grupo alemão Bertelsmann, que atua no ramo da saúde.
Para um experiente policial consultado a respeito deste caso, “se for verdade o que obteve em seus apontamentos, podemos estar diante de uma grande “lavanderia” de dinheiro sujo, sei lá, cabe à Polícia Federal apurar”.