A MIOPIA DOS VEREADORES QUE NÃO QUEREM ENXERGAR ALÉM DE SEU HORIZONTE NÃO TEM CURA

Novo empreendimento do bairro Jardim da Torre, vizinho ao Vila da Serra, terá 31 unidades e 10 vagas de garagens. É apenas um dos muitos projetados para o setor Nortes da cidade. Foto/Divulgação
Havia na mesa de um reitor conhecido meu a seguinte frase: “Nada é urgente, urgente é aquilo que deixamos para última hora”. Pura verdade. Se Nova Lima sofre hoje com congestionamentos para sair da cidade pela MG-030, é porque os políticos da cidade não buscaram uma rota alternativa para fugir do gargalo do Belvedere.
Esta inércia ocorre devido a um modelo anacrônico e tacanho de se fazer política na cidade, sem acompanhar o seu desenvolvimento. Não há, por grande parte dos vereadores, em suas diversas legislaturas, uma visão macro e preventiva do impacto que o crescimento socioeconômico causa no meio ambiente, no trânsito e na qualidade de vida.
As pautas continuam sendo as mesmas de sempre: políticas públicas, sociais, discursos sofistas e populistas, como as retóricas convenientes, e a briga por melhores salários dos servidores públicos municipais. Esta, aliás, parece ser a causa maior dos que caçam voto neste setor, por ligações umbilicais com a classe. A piracema ocorre nas campanhas eleitorais.
Nova Lima tem cerca de 110 mil habitantes. Um pouco mais da metade deste contingente é de pessoas adultas com relação de emprego direto ou indireto na prefeitura ou na Câmara. São cerca de 10 mil servidores vinculados à folha que gira em torno de 450 milhões/ano. Somando os parentes em primeiro grau, são cerca de 30 mil pessoas intrinsicamente ligadas a esta engrenagem fisiologista.
Enquanto os vereadores correm o olho no umbigo, no bolso e no bico do sapato, prestando atenção somente na sua base eleitoral, o mercado imobiliário explode. O setor já é o carro-chefe das receitas locais, com o IPTU e o ITBI com um crescimento anual agregado de 50% a partir de 2022. São lançados mensalmente no mínimo dois a três empreendimentos de alto luxo no setor norte.
Alguns destes empreendimento possuem até 10 vagas de garagem para uma média de 31 unidades. Boa parte destes empreendimentos ficam à margem da MG-030 que tem hoje um fluxo diário de 15 a 16 mil veículos/dia. Em cinco anos este fluxo será de 20 a 25 mil. Pergunto: como será possível escoar tudo isso na BR-356, passando pelo Belvedere e o entorno do BH Shopping?
O Belvedere é um bairro de luxo de beira de estrada. Cresceu à margem da BR-356 e da MG-030, para ficar perto do maior centro comercial do Estado. Seus moradores e os políticos de BH permitiram a mega expansão do Shopping em 2007, aumentando em 1/3 o número de lojas e de estacionamentos. Bloquearam o acesso de Nova Lima à Capital.
Culpa dos moradores do bairro e dos empreendedores? Não. Culpa dos políticos frouxas. Os moradores do Belvedere têm razão de não querer tanto carro vindo de Nova Lima de passagem pelo seu hipercentro. E nem querem saber de obras viárias ali. Querem paz. Eles não precisam delas, porque têm acesso livre à BR-356 sem precisar de passar pelo BH Shopping.
Quem permitiu esta muvuca e este funil foram os políticos, que nada fizeram até hoje para resolver este problema. O advogado Walmir Braga foi claro a este respeito na última audiência pública para tratar do problema. Segundo ele, todas as obras viárias executas no trecho até agora foram bancadas pelos empreendedores.
A PBH, o DER E O DNIT não fizeram nada para solucionar o problema. Então tá: já que o trecho pertence a eles, cabem aos políticos de Nova Lima buscar uma solução urgente, urgentíssima, para este imbróglio. Esta tem que ser uma pauta prioritária na Câmara. Mas, infelizmente, isso não vem ocorrendo, porque a miopia de quem não quer enxergar além de seu horizonte não tem cura.
OPINIÃO
Não sou contra os empreendimentos imobiliários de alto luxo em Nova Lima. Pelo contrário: o setor gera emprego e renda para o município, e é, ao lado da extração de minério de ferro, a base da economia. A escolha da cidade para estes investimentos é sinal de que temos muito mais a oferecer em qualidade de vida, segurança e sossego do que outras regiões da Grande BH. A minha preocupação é com a mobilidade urbana e com a cegueira daqueles que não entendem este ferrolho do trânsito para escoar o tráfego até a Capital e demais regiões, tendo apenas a MG-030 que foi cercada na altura do Belvedere pela urbanização desordenada deste bairro de beira de estrada e o BH Shopping. Congestionaram tudo ali e não permitem as intervenções necessárias para dar vazão ao grande número de veículos procedentes de Nova Lima no sentido da Capital, principalmente. O volume do tráfego diário neste gargalo passa dos 15 mil, mas daqui a cinco anos, serão 25 mil ou mais. Aí vão culpar Nova Lima pelo seu crescimento. Ora, quando a desculpa é o desenvolvimento é porque quem pensa assim parou no tempo. Está mais atrasado no tempo do que o trem da Central do Brasil em suas estações do início de século passado, quando problemas de última hora na caldeira ou na linha férrea obrigava o maquinista a comunicar o chefe da estação que “teremos um atraso de no mínimo 1800 minutos”. Mentalidade retrógrada de quem não quer enxergar a evolução dos tempos.