QUEM TE VIU, QUEM DE VÊ (a saga do PT de Nova Lima e os riscos de boicote à sua nova vereadora)

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Juliana Salles nas comemorações de aniversário da cidade. Foto/Facebook

Quem acompanhou a política de Nova Lima a partir do início deste século, deve estar se perguntado: que diabo aconteceu com este PT que mandou e desmandou na cidade durante um bom tempo e hoje virou um vaso quebrado sem conserto?

Vamos aos fatos. O PT venceu as eleições de 2004 com Carlinhos Rodrigues que sucedeu a Vitor Penido que não podia concorrer. O movimento sindical, à época, estava em alta, com a esquerda rufando os tambores com Lula eleito presidente em 2002.

Carlinhos fez um bom primeiro mandato e o renovou em 2008 com a prefeitura infestada de elementos bons e ordinários. O petismo exacerbado e fisiologista cegava o partido que não se preocupou com o futuro da legenda. Era Carlinhos e ponto final.

Veio a eleição de 2012 e a esquerda não tinha um candidato preparado para disputar a prefeitura com Vitor Penido. O segundo mandato de Carlinhos não foi lá essas coisas. Muitas denúncias. Vaidades e egos à flor da pele.

Vários nomes surgiram, forçando uma prévia das convenções. Mandaram três: Fatinha Aguiar, Mário Borges e Epaminondas Bittencourt. Como editor do Jornal A Notícia, cheguei a criticar a prévia com o prefeito. “Vai dar merda, Carlinhos, arruma um candidato seu”.

Ele não quis intervir. Deixou para a plenária decidir. Escolheram Fatinha, sua ex-secretária de governo, mas a diferença de votos foi mínima entre os candidatos. A bagunça começou aí. Fatinha não tinha consenso na militância e nem cacife para encarar Vitor.

As assembleias do partido viraram uma Babilônia. Todo mundo falando ao mesmo tempo. A confusão levou a sigla a abrir mão da candidatura própria. Chegarem ao vereador Cassinho, do PMDB. Um bom vereador, mas não era de grupo.

Alertei Carlinhos sobre esta característica monástica do vereador no plenário. Ele não tinha, na minha opinião, pulso forte e estômago para suportar as pressões, caso eleito. Mas o prefeito insistiu no seu nome. Fatinha de vice.

Continuei com minhas críticas, denúncias e convicções de um PT ladeira abaixo, cavando a sua cova. As brigas internas e os escândalos acenavam para uma autofagia da estrela vermelha na cidade

A chapa PMDB-PT venceu as eleições. Cassinho não tinha rejeição. E a máquina administrativa trabalhou pesado, dentro e fora da lei, para vencer o pleito. O PT pulou para dentro do governo com alguns bandidos avançando em tudo.

Fiz várias denúncias sobre as falcatruas. O DEM denunciou os abusos de poder na campanha. O MP propôs uma ação civil pública que logrou êxito em primeira instância, com a cassação da chapa. O objeto da ação foi a cessão de uso de terrenos para igrejas evangélicas.

Barganha e compra de votos, o entendimento da justiça foi este.

A esta altura Carlinhos já havia se desentendido com Cassinho, mas muitos petistas do primeiro escalão, principalmente, não quiseram largar o osso. O governo inflou o orçamento de 2014, dobrando-o em relação ao ano anterior, e deu com os burros n’água.

A receita chegou a pouco mais de R$ 500 milhões, para os quase R$ 750 milhões previstos. Para piorar, o prefeito foi levado a assinar uma convenção coletivab de trabalho com o sindicato dos servidores onerando a folha. Quase todos os mais de 30 itens reivindicados foram acordados.

A prefeitura ficou sem grana para pagar os servidores em 2015 e a crise foi parar na justiça. O processo de cassação da chapa se arrastou até setembro de 2016, quando, finalmente, o prefeito e sua vice foram afastados do cargo em definitivo.

Carlinhos ficou inelegível, mas nada foi provado contra Cassinho que não perdeu seus direitos políticos. O estrago no PT o levou a ficar sem candidato próprio em 2016. Apoiou Jaconiss Gomes (PRDB) que perdeu para Vitor Penido.

Concomitantemente a toda essa crise política interna do partido em Nova Lima, vieram o esvaziamento dos movimentos sindicais, com o fim do imposto único, a reforma trabalhista, etc. E o PT continuou com as brigas. Perdeu a eleição de 2020 na base do fogo amigo e o tiroteio se repete agora.

O seu candidato este ano, Jobert Jobão, não tem cacife para enfrentar Vitor e o prefeito João Marcelo Dieguez. O rapaz é eloquente, articula bem as ideias, mas o partido, como sempre rachado, não ajuda em nada. Está em amplo processo de esvaziamento.

A bagunça é tanta, que a vereadora Juliana Salles, eleita pelo Cidadania, filiou-se ao PT em Brasília. Ela é ligada a Carlinhos e acabou, com adesão à distância, botando mais gasolina na fogueira. A mulherada de lá pré-candidata a vereadora está em polvorosa..

O bicho vai pegar mesmo é na campanha. Juliana corre sérios riscos de boicote e de não renovar o seu mandato por conta deste imbróglio. Uma boa vereadora, mas não tem dado sorte. Foi prejudicada pela briga com o partido que a elegeu e é muito presa a pautas nacionais, em detrimento das locais.

Vale lembrar que nas duas últimas eleições, de 2016 e 2020, o PT só fez um vereador em cada uma: o reeleito Flávio de Almeida (foi o mais votado em 2012), e seu filho Thiago Almeida, em 2020. Ambos deixaram o partido por causa da bagunça.

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