Tratores do DER preparando a MG-437 no ano passado para a sua pavimentação anunciada festivamente pelo governador Romeu Zema, mas tudo não passou de mais um teatro. Outros políticos fizeram a mesma coisa usando a tricentenária Estrada Velha ligando Nova Lima a Sabará de palanque. Foto/Divulgação

Se me perguntarem quantas reportagens fiz nos últimos 15 anos anunciando a pavimentação da MG-437, ligando Nova Lima a Sabará/BH, eu não saberia dizer. Quantas já foram escritas pelos demais jornalistas e influenciadores digitais, então, nem se fala. Mas para quem como eu, dos anos de chumbo (tipográfico e repressor), que cobriu dezenas de  lançamentos de “pedra fundamental” de araque celebrados com água benta e também eventos enfeitados pelas altas autoridades até com trator sem motor, isso não é novidade. Fui vacinado e revacinado várias vezes contra Fake News, antes mesmo de existir a Internet.

Voltando à MG-437, olha que não é um caminho de roça qualquer não. Ela existe há mais de 300 anos. Após a inauguração de Belo Horizonte, em 1897, virou uma rota de tropeiro e vaqueiros para o Rio. Com a chegada dos carros, se tornou uma rodovia de terra. Era o único caminho para a capital federal. Começava na rua Niquelina, perto do 1° BPM, em Santa. Efigênia, passava pelo Taquaril, Sabará e Nova Lima, até Paraty, no Rio.

Era a Estrada Real. Tem totem com este nome no bairro Honório Bicalho, por onde passava também a extinta estrada de ferro. Tinha até um bondinho elétrico ligando a Praça dos Mineiros, em Nova Lima, a Raposos. Acabou tudo. Surgiu a MG-030, ligando o Sul da capital a Nova Lima,. Foi asfaltada e depois duplicada, mas o pavimento da Estrada Velha continua na promessa. Fica sempre na Ordem de Serviço, como agora.

Deram toda a atenção à MG-030, mas esqueceram que esta é uma filha única. Uma vez obstruída (o Belvedere e o BH Shopping bloquearam-na na altura da BR-356), Nova Lima fica ilhada. O prefeito de Nova Lima, João Marcelo Dieguez, obteve autorização da Câmara de quase R$ 50 milhões para pavimentar a MG-437 até Sabará, já que o DER a abandonou, mas a obra não anda.

Será que existe algum empecilho jurídico, por investir recursos do município em outro (o ex-prefeito Vitor Penido tentou fazer isso certa feita e a Procuradoria deu parecer contrário) ou é burocracia mesmo? A gente nunca sabe, porque o prefeito não explica e os vereadores não dão uma satisfação ao público do andamento das tratativas. O que está pegando, afinal, ninguém sabe bolhufas.

A bancada governista, liderada pelo vereador Silvânio Aguiar, deve esta explicação ao povo e tem a obrigação de atualizar este assunto. Mas parece um segredo de Estado. Aliás, existem mais dois projetos em andamento na prefeitura que tratam de outras rotas alternativas para acessar BH e desafogar a MG-030, mas ninguém fala direito sobre o assunto. Uma das rotas seria a avenida Dr. Flávio Guimarães, que sai da MG-030, altura do Posto da Polícia Rodoviária, até o bairro Jardim da Torre, próximo à Fundação Torino, na divisa com BH.

A Ordem de Serviço desta obra foi assinada  em junho  do ano passado para ficar pronta em um ano. Tem também o  projeto que  utiliza o antigo terminal ferroviário do bairro Olhos D’agua até a MG-437, na divisa com Sabará. Este projeto ainda está em discussão. Teremos dia 30 próximo em BH mais uma consulta pública a este respeito. O assunto é polêmico. Envolve as prefeituras de BH e NL, e a Superintendência de Patrimônio da União (SPU).

Mas são apenas projetos, documentos, possibilidades, promessas. Um balaio de gato que deixa a população ainda mais desacredita nos políticos, porque são muitos caciques para pouco índio. Infelizmente, não dá mais para levar a sério este tipo de notícia institucional no sentido imperativo das publicações. Estão mais para meras ilações a compor agendas de intenções, nada mais do que isso. Papéis e muita perda de tempo.

A nova geração de jornalistas e influenciadores digitais talvez não perceberam o quanto são manipulados pelos políticos sobre questões desta natureza, mas um dia darão conta desta triste realidade. Antigamente este tipo de informação tinha o nome de “notícia plantada”. Algumas vinham acompanhadas da famigerada  “pedra fundamental”. Um teatro onde o protagonista do evento simulava o início da obra com muita pompa, foguetes e até água benta burrificando o local.

No final da década de 1970 reportei uma pantomima dessa sobre o anúncio do asfaltamento da Serra do Cipó pelo ex-governador Magalhães Pinto, então candidato a deputado numa dobradinha com Zé Aparecido. Havia faixa e tratores por todos os lados anunciando a ligação asfáltica de BH a Conceição do Mato Dentro, terra de Zé Aparecido, ex-chefe de gabinete do presidente JK (1957-1961).

Reportei o assunto como frila do relançamento da revista O Cruzeiro, cujo título fora comprado pelo jornalista Alexandre Van Baungarten, com dinheiro do Banco do Brasil (ele era ligado ao SNI). Mais tarde, cobrindo o recém-inaugurado Palácio do Buriti pelo jornal Estado de Minas,  em Brasília, fui informado numa galhofa do governado do DF Zé Aparecido (1985-1988)  que aquilo tudo foi uma grande mentira:

-“Foi arrumação do Magalhães Pinto que queria se eleger deputado e abafar o escândalo dele com a Vera Fisher (o boato era de que havia um affair entre eles); os tratores nem motor tinham, era tudo do pátio de sucata da Mendes Junior”, cochichou o governador. O deputado Mauro Lopes, que foi patrulheiro rodoviário, me confirmou o teatro posteriormente numa gigantesca operação rodoviária de final de ano, também utilizando viaturas sucateadas para enganar o povo.

Como se vê, sou vacinado há mais de 40 anos contra Fake News. Já chega, né!

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